segunda-feira, 10 de março de 2014

OS DEZ MANDAMENTOS, VERSÃO ATUALIZADA

Moisés está nervoso, não conseguiu dormir a noite toda, finalmente depois de esperar doze anos, recebeu um sinal Dele para ir ao Monte Sinai receber a tábua com os mandamentos. Quando chegou ao local combinado viu que ao lado de uma árvore frondosa havia uma tábua. Pegou-a e a colocou numa arca e voltou correndo, tinha pressa em voltar porque o povo estava indócil, insatisfeito com a sua gestão. Ele estava no poder há cinquenta e nove anos e tinha pretensão de prorrogar seu mandato por mais sessenta, mas o escândalo da compra superfaturada de camelos e cabras pipocou e a oposição pedia a sua renúncia. Mas a Tábua com os mandamentos que Ele lhe entregou era sinal de prestígio e o melhor cabo eleitoral que podia contar para debelar a rebelião.

Reuniu o povo nas dunas do deserto e, eufórico, começou a ler os mandamentos, quando terminou fez-se um profundo silêncio. A cara de todos era de espanto e incredulidade com o que tinham acabado de escutar a começar pelas mulheres que estavam injuriadas com o décimo mandamento que dizia: “....Não cobiçarás a casa do teu próximo, nem a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu touro, nem seu jumento, nem qualquer coisa que pertença ao teu próximo...”

Segundo elas o mandamento tinha nítido cunho machista, pois as colocavam no mesmo plano do jumento e touro, e, adicionalmente, jogava a autoestima delas para baixo, pois o que mais queriam era ser cobiçadas e desejadas. Qual o problema disso, perguntaram. 

Os escravos também ficaram revoltados com o polêmico mandamento, pois ele legitimava a escravidão ao dizer que ninguém deveria ficar de olho nos escravos do outro, ou seja, não estava preocupado com a liberdade deles, e sim com a preservação do patrimônio, no caso o próprio escravo e também as casas, latifúndios, etc.. o que, por tabela, ferrou o MST, e, por isso, muitos passaram a acusar Ele de ser neoliberal.

Já outra corrente da tribo estava inconformada em não poder cobiçar a mulher do próximo, determinação que era reforçada em outro mandamento que proibia o adultério, ou seja, a libidinagem mereceu dois artigos e o assassinato um - Não Matarás.

O que será que Ele tinha contra cobiçar a mulher do próximo, perguntavam todos, no deserto não tinha nada para fazer. Os mais radicais estavam revoltados porque teriam também que abandonar o Bezerro de Ouro, o que significava ficar no pior dos mundos, que era  trocar o de ouro pelo animal e, juntando tudo, praticar a zoofilia, pois mulher que é bom, nem pensar, a de casa não contava.

Mais existia uma brecha como mostrou os constitucionalistas da tribo, não havia nenhum impedimento de uma mulher cobiçar o marido da próxima. Isto acalmou o ânimo de todos, além de ter salvado o judaísmo, pois a maioria esmagadora sinalizava que iria continuar adorando o Bezerro de Ouro e comendo a mulher do vizinho.

Já o mandamento Não Furtaras foi motivo de chacotas, pois imbuídos de premonição, ninguém acreditava que aquilo no futuro seria cumprido para valer por algum governo. Durante anos zoaram de Moisés por causa deste artigo, ele mesmo foi pego anos depois desviando sal e destituído do poder através de impeachment, além de ficar proibido de entrar na terra santa. Esta é a verdadeira história porque Moisés depois de dezenas de anos vagando no Egito morreu na praia, ou melhor, no deserto, sem conhecer a terra santa.

O quarto mandamento, relativo à obrigação de se descansar um dia na semana - o sétimo-, revoltou os sindicalistas da tribo vinculados a ala dos Patriarcas Tradicionais- PT, que queriam que também fosse incluído no mandamento outros direitos para os trabalhadores como um mês de férias, licença prêmio, maternidade, paternidade, por viuvez, doença, aposentadoria com quinze anos de trabalho, direito de greve, estabilidade no emprego, FGTS, INSS, carteira assinada, adicional por insalubridade, o ar do deserto estava poluído, criação de feriados religiosos e cívicos como a Primavera dos Faraós, Dia da Criação do Planeta e Dia do Dilúvio foram algumas das reivindicações, a pauta era bem maior.

Tinha também a turma inconformada com o trecho que penalizava sucessivas gerações pela merda feita pelos antepassados “.....puno o erro dos pais nos filhos até sobre a terceira geração e sobre a quarta geração dos que me odeiam....”. Na mesma hora os constitucionalistas apresentaram diversas emendas para mudar este artigo, que até hoje está sendo apreciada pela Comissão de Constituição e Justiça do Sinédrio. Enquanto ela não é aprovada centenas de milhões de pessoas pagaram e continuam pagando pelos erros dos antepassados.

No Brasil presente os descendentes das famílias Calheiros, Maluf, Sarney, Barbalho, Dirceu, Soares e outras igualmente ilustres estão inconsoláveis com este artigo e estudam a possibilidade de propor a revogação dos dez mandamentos e substituí-lo por um Código Divino Minimalista, que seria mais conciso e moderno. A ideia predominante é se criar uma nova Tábua com o Um Mandamento, que é aquele que versa e protege o latifúndio, o jumento e o touro - a mulher não seria mais incluída, porque ao contrário do acontecia no passado, hoje ela tem poder demais - revogando-se mandamentos em desuso ou fora de moda, como não roubar ou levantar falso testemunho. 


Amar e respeitar Deus entraria nas disposições transitórias, pois tem que se levar em conta o direito e crença – ausência dela- dos ateus e agnósticos, só que com texto mais atual e contundente: "Amar e respeitar Deus, caso contrário seus embargos infringentes nunca serão aceitos"