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| Mauricio Marinho diretor dos Correios recebendo propina.Quem é corrupto, o Correio ou o cidadão? |
O tsunami de revolta que vem varrendo o
país contra a corrupção e os péssimos serviços oferecidos pelo poder público
nas áreas da educação, saúde, transporte e segurança tem como alvo, por razões
óbvias, o governo. Na leitura popular governo não é só o poder executivo, como
também o legislativo e, em determinadas situações, o judiciário. O sujeito das
críticas é, invariavelmente, o governador, prefeito, presidente, ministros,
secretários, deputados, etc...
Mas governo é só as autoridades acima
citadas e seus assessores? Não seria governo algo mais abrangente? Vamos tomar
como exemplo a área da saúde cujos serviços são, invariavelmente, ruins.
A ira da população é, naturalmente, direcionada contra o governante e o
seu secretário e, às vezes, o diretor do órgão alvo dos malfeitos. Mas quando um médico,
funcionário público, burla o relógio de ponto e não comparece ao plantão ele é
o profissional que sumiu do mapa ou personifica também a instituição governo? E
professor da rede pública que simula doenças para conseguir licença médica de
forma fraudulenta, contribuindo para piorar a qualidade do ensino, é apenas
pessoa física dissociada da entidade governo agindo de forma incorreta ou
também personifica o governo?
E o que dizer dos guardas de trânsitos
e fiscais que pedem propina? Este passivo de honestidade deve ser creditado ao
“governo corrupto” ou ao cidadão exercendo a função pública de forma incorreta?
Da mesma maneira, o que dizer das pessoas que integram as comissões de
licitação que adquiri produtos de qualidade inferior a preço superior?
O jornal O Globo do dia 23/06/13 traz
uma reportagem sobre obras superfaturadas feitas em escolas públicas nas
cidades da serra fluminense devido às chuvas de 2010. Além de superfaturadas,
muitas obras foram feitas em escolas que não foram atingidas pelas cheia, ou
seja, nenhum serviço foi efetivamente realizado, mas a empreiteira recebeu o
valor correspondente ao serviço proposto. Por traz deste esquema havia,
conforme consta na reportagem, a cumplicidade de engenheiros e fiscais da
empresa estadual responsável pela execução da obra.
Assim, quando se fala governo corrupto
estamos nos referindo a quem, pois governo na sua essência é uma abstração, o
que existe no fundo são pessoas que dão a ele caráter ético, gerencial e
político. Quem é no caso relatado corrupto? O governo representado pelos
engenheiros ou os engenheiros pessoas físicas? São entidades diferentes ou se
confundem?
É importante destacar que as pessoas
eleitas, concursadas ou nomeadas para exercer a função pública saíram do seio
da sociedade, é o vizinho, irmão, filho, marido, amigo da escola ou do clube,
pessoas que antes de chegar ao governo iam para a rua protestar contra a
corrupção. Muitas lutaram pelas Diretas Já ou pintaram as caras e marcharam
pelo impeachment do Collor, frequentam a igreja, prezam publicamente os bons
costumes, a família e alguns participam de projetos comunitários.
Diante dos milhares casos de corrupção
em todas as esferas de poder noticiados nos últimos anos, que possivelmente
deve ser a ponta do iceberg, o fato nos remete a seguinte questão: estaria a
sociedade brasileira impregnada pelo vírus da corrupção? Ela só preza os
valores éticos e de honestidade quanto está do lado de cá, mas quando passa
para o lado de lá, ou seja, vira governo ou atua no legislativo ou judiciário,
esquece seus conceitos morais e critérios de honestidade? A ocasião faz o
ladrão?
Se acreditarmos que a imagem e conceito
de um governo não estão circunscrito a atuação das suas autoridades máximas,
mas também das ações e da integridade moral e ética dos profissionais que nele
atuam, fica a suspeita diante do exposto, que quando a sociedade critica o
governo não estaria no fundo e inconscientemente se auto recriminando?
Complemento da crônica feita em 25 de novembro de 2014
Complemento da crônica feita em 25 de novembro de 2014
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| O Globo 25/11/214 |
O teor da matéria aí ao lado já virou
rotina e vai na linha do que se escreveu acima, ela noticia mais um caso de
corrupção de funcionário público, crime que na maioria das vezes não envolve os
“altos escalões” do governo e nem políticos, ele é fruto do “empreendedorismo”
de funcionários que se lançam na promissora e perigosa carreira da corrupção,
que costuma, ou costumava, dar alto retorno financeiro. O cidadão deste caso é um engenheiro, de novo eles, com trinta e sete anos de serviço como fiscal da
prefeitura, já tendo presidido a Associação dos auditores municipais.Você acha
que o ato criminoso do engenheiro depõe contra o governo municipal ou deve ser
atribuído ao voluntarismo da pessoa física?
